6 de maio de 2020

Quando eu odiava as flores



Teve um tempo que vivi em meio a flores. Durante parte da infância e adolescência minha mãe tinha uma floricultura e neste período de dia das mães, todos os cômodos da nossa casa eram tomados por caixas de flores com suas cores, texturas e aromas. E eu simplesmente ODIAVA.

Numa época onde não existiam flores artificiais, as flores eram uns dos principais presentes de dias das mães e nossa família trabalhava muito na semana inteira. A nossa geladeira era lotada de rosas vermelhas, pois se você não sabe, é ali que elas são guardadas, e até hoje tenho ranço de rosas e seus espinhos, pois era a minha tarefa retirar todos os espinhos daquelas plantas metidas. Espinhos criados a whey protein, que mesmo havendo ferramenta para retirá-los, o jeito que achava mais eficiente era com os dedinhos mesmo. E cada espinho era uma dose maior de ranço! E cada pedido de 30, 60, 100 rosas enfeitadas que chegavam naquele balcão eu ficava mais possuída pelo ritmo ragatanga e imaginando quem gostava daquela breguice! Tudo bem, estamos falando de mais de uns 20 anos atrás...

Quando acabava aquela semana, estava eu com os dedos doloridos. Minha mãe com as mãos tingidas de fitas e igual um zumbi. Meu pai com glitter até pelas orelhas pois na época todo mundo queria sufocar as flores com brilho. Entrávamos para casa e a geladeira estava vazia, pois não existiam mais rosas dentro e a gente havia esquecido de comprar comida. Minha vó tinha feito um carreteiro ruim (nisso ela não tinha talento), mas pelo menos a refeição não seria xis de novo. E assim era a semana.

Passaram 20 anos e como vão as coisas? Amo as flores. Ainda não gosto de rosas, principalmente as vermelhas. Porém escolhi trabalhar em algo que é tão parecido com aqueles dias de confusão, porém sem glitter. Não tinha muita noção disto quando escolhi meu destino.
Minha cabeça parece os cômodos da casa cheios de flores, porém com campanhas, promoções, mídias. Houveram anos que devo ter escrito umas 40 mensagens diferentes sobre a mesma coisa. Neste, por felicidade, tenho colegas lindos me ajudando nesta árdua tarefa. Mas a rotina está quase igual de quando vivia numa floricultura. 
Acordar cedo e não pensar em nada a não ser “enfeitar rosas” para outras mães que não a minha. Aí vai chegar domingo (como outros anos) e a minha mãe não vai ter uma postagem especial, uma mensagem tocante, uma rosa enfeitada, um cartão bonito, pois trabalhei tanto para que outras mães ganhassem seus presentes, se sentissem homenageadas e especiais.

Agora é a minha vez de estar com as mãos tingidas de fita, porém ainda saí no lucro, pois o carreteiro da minha mãe é muito melhor do que o da minha avó!
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