Quero contar uma historia para vocês... Um caso que pode ter acontecido com muitas meninas e provavelmente com quase nenhum homem. Talvez seja interessante, você que é homem continuar lendo...
Aos 13 anos eu estava caminhando em uma rua do Centro de Sapiranga. Na época minha mãe tinha uma loja lá, e eu tinha ido buscar alguma bobagem para comer ali perto. Era uma tarde qualquer, em uma rua com movimento, um caminho bem tranquilo de se fazer. Aos 13 anos, eu era uma menina magrelinha. Tinha cabelão comprido, pernas finas, praticamente sem seios. Eu ainda tinha formas e jeito de criança. Me vestia como uma menina, camiseta, calça jeans, tênis, assim como na escola. Conseguiu imaginar a cena?! Ok! Então vamos para a continuação...
Eis que passa por mim um homem. Não um garoto. Um homem, bem mais velho que eu. Passava dos 30 com certeza. Estava arrumado, cabelo penteado. Parecia um homem comum, trabalhador, normal, inofensivo. Porém quando passou por mim, mexeu comigo. Mas não... não foi algo como “oi gracinha!” ou algo assim. Ele falou palavras chulas e pornográficas, que eu aos 13 anos, nunca tinha ouvido (e que não repetirei aqui, pois acho nojento). Foi muito rápido, mas fiquei assustada, baixei a cabeça e acelerei o passo. Cheguei ao meu destino e não contei para ninguém, afinal estava envergonhada. Muito envergonhada.
Consegue ver quanta coisa errada? Primeiro, eu era praticamente uma criança. Mas vamos lá... o que dá o direito a um homem falar as atrocidades que vem em sua cabeça? Ou de achar que uma menina sozinha pode ser um alvo de seu desejo?
Quantas meninas de 13 anos ou menos, passam por situações bem piores do que isso? Que não escutam apenas as intenções do outro, mas sim seus atos. Quantas se tornam objetos nas mãos de seus malfeitores? Quantas são mortas por eles?
E sabe por que estou contanto isso? Porque dá nojo de ver gente falando e FEMINISMO é mimimi. Ainda mais, devido ao discurso da Fernanda Lima ou o acontecido com a Cláudia Leite das ultimas semana.
Feminismo não é “mulheres são melhores que os homens” mas sim, “mulheres são iguais aos homens”. No que se trata de direito e respeito.
Se você na sabe do que estou falando, a Fernanda Lima fez um discurso empoderado no seu programa, que um monte de gente com baixa informação (e vontade de buscá-la) achou que ela estava direcionando para o presidente eleito. Porém o programa foi gravado antes do final da eleição. Ahh, e depois o cantor Eduardo Costa criticou ela nas redes sociais...um cara conhecido por ser mulherengo, nojento e ter adoração por prostíbulos. Já, a Claudia Leite foi assediada pelo Silvio Santos, ao vivo, durante um programa de TV, onde ele dizia que não podia abraçá-la porque ficaria excitado. Uns acharam que isso era uma brincadeirinha de um tiozão gagá... por favor né?! Tá na hora de colocar limites!
Pensem nas suas irmãs mais novas, filhas, netas, afilhadas. As crianças que você brinca hoje, aquelas que protege e ama. Elas vão ter 13 anos também! E algum homem nojento vai olhar para ela como se fosse um delicioso e suculento pedaço de carne.
Ahhhh, “mas nem todo homem é assim”, talvez você vai me responder! Claro que não é! Graças a Deus!!! Mas quando você homem, minimiza o assédio, quando coloca a culpa na vítima, quanto repassa nudes de mulheres no WhatsApp, quando dá aquela buzinadinha no trânsito, ou quando vê seus amigos fazendo isso e não fala nada, você valida isso! Mulheres, vocês também!
Lembre-se! Sua avó é mulher. Sua mãe é mulher. Sua esposa é mulher. Sua filha é mulher!
E eu espero que quando as minhas afilhadas tiverem seus 13 anos e algum imbecil falar bobagens, elas se sintam corajosas e destemidas para revidar, para chamar a polícia, para falar para os adultos, ou para gritar bem alto “seu tarado nojento”. Empoderadas para que não sintam vergonha ou medo. E que as mães de menino dessa geração, sejam iluminadas para criarem verdadeiros homens de bem!
Homens não saem na rua com medo de serem estuprados, não é mesmo?! Mulheres sim! E não digo, estar de madrugada por aí, digo de ir até a farmácia da esquina, ou buscar um lanche ali perto. Homens não precisam fingir que não escutam gracejos. Nem que alguém superior no trabalho, escola, faculdade, igreja, clube ou família, possa passar do limite e ter que lidar com essa situação.
Não tem a ver com a roupa, com a postura, com o comportamento, com qualquer coisa. A culpa NUNCA é da vítima!
Se você, que é mulher, acha tudo isso conversa fiada, tudo bem! Como disse uma amiga minha num post que compartilhei esses dias, continuaremos lutando por você. Lutando para que você não apanhe do seu marido, que ele não te humilhe, para que você não seja abusada, para que você possa trabalhar, votar, escolher, viver, como um ser humano completo e não como um objeto na mão de outro. Muitas outras lutaram por mim, para que eu possa escrever essas palavras, para que eu possa tirar essas fotos, para que eu possa trabalhar, para que eu possa votar, para que eu possa usar um batom vermelho, para que eu possa exigir respeito.
Pelas Marieles assassinadas por ter ido contra a um sistema.
Pelas Letícias assassinadas pelo pai, que deveria protegê-la.
Pelas Tatianes assassinadas pelo marido que a deveria amá-la.
Pelas Marias da Penha que perderam a mobilidade do seu corpo por aquele que deveria caminhar ao seu lado.
Pelas meninas que perderam a inocência dentro de sua própria casa.
Pelas jovens que viverão traumatizadas por terem sido expostas em quem confiavam.
Pelas mães que apanharam caladas para proteger seus filhos.
Pelas esposas que sofreram humilhações e contraíram doenças incuráveis.
Pelas trabalhadoras que ficaram caladas para terem dinheiro para pagar o seu aluguel.
Eu sou a resistência. E não de um governo que não concordo, mas aceito. Eu sou resistência ao pensamento coletivo de que nós mulheres somos menos.

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