Paris, a cidade luz e mais visitada da Europa. Sinonimo de moda, arte, requinte. O destino sonhado por vários mortais. Essa Paris todo mundo conhece, nem que seja por foto não é mesmo?! Mas existe outra Paris... uma rua localizada em uma cidade pequena do Rio Grande do Sul. Lá só existem 7 casas que ficam guardadas em muros e grades bem altas. Os moradores desse lugar tem uma vista tranquila para uma área verde, com árvores altas e pássaros cantores. Nesta Paris, além dos pássaros, moram pessoas adultas, crianças, gatos e cachorros. A maioria deles estão trancados dentro de seus mundos e muros, mal se enxergam para dizer um “boa tarde”. Porém, havia uma moradora... Apenas uma, que quebrava este padrão e percorria toda a Paris saltitante e feliz: a Floquenta.
Floquenta teve outros nomes... alguns chamavam de Lupita, outros de Princesa. Eu batizei de Floquenta, pois ela parece um grande sorvete de flocos. Ela é feliz como sorvete!
Mas afinal, quem é essa moradora da nossa Paris? Ela é uma cachorra vira latas que fez dali seu lar. Um dos vizinhos a oferecia água e comida, mas seu espírito livre a fazia estar sempre percorrendo aquela e outras ruas dali de perto. O animal mais simpático que já conheci na vida, que faz amizade com outros bichos e gente, com grande facilidade. Acredite, nenhuma miss consegue ser tão carismática quanto essa dog. E dia após dia, ela corria rua, brincava e pulava em todo mundo.
Nunca havia tempo ruim para a Floquenta. Até que um dia o tempo fechou... Ela, com a sua alegria saltitante, correu atrás de um carro para brincar (sim, ela fazia muito disso), e acabou sendo atropelada. O acidente não foi grave, mas suas complicações sim... Ela estava grávida e seu parto foi difícil e os filhotes estavam todos mortos. Durante uma semana, ninguém viu a Floquenta. Não havia sua alegria enlouquecida iluminando Paris. Eis que descobrimos que ela estava bastante doente, sendo cuidada por um dos vizinhos, mas que ele não poderia ficar com ela, afinal seu pátio aberto permitiria que ela fugisse que quem sabe se machucasse de novo.
Assim que eu e meu marido soubemos disso, decidimos que iríamos cuidar dela e no outro dia iríamos buscá-la para nosso lar. Mas não precisou... Naquele mesmo fim de tarde, ela simplesmente apareceu.Viu o portão aberto, entrou e deitou na cama do nosso cachorro idoso chamado Feijão. Ali ficou... Triste, fraca, e com um olhar de ferir o coração. Nos dias seguintes, ela foi tratada, ganhou banho, coleira, medicação, cama e família. Ficou bem, muito bem!
Floquenta voltou a ser a cachorra hiperativa de antes. Destruiu várias coisas da nossa casa, espalhou lixo pelo pátio, cavou buracos, arranhou o carro quando viu que eu estava dentro, pulou em mim como se fosse um canguru me deixando cheia de hematomas. Ainda, não deixa seu irmão, o velho e cansado Feijão em paz. Corre atrás dos irmãos felinos Farelo e Amora em tentativas frustradas de conseguir um parceiro para brincar. Nesse novo lar, ela não encontrou parceiros para fazer folia, mas ela ainda sim, escolheu ficar ali!
Escolheu sim, pois várias vezes ela escapou pelo portão, correu pela rua, disse olá para os vizinhos, brincou com os seus amigos caninos. Porém era só chamar pelo seu novo nome, que ela voltava de prontidão para a sua casa. A casa que escolheu ficar, a família que ela quis entrar.
Sabe porque estou falando da Floquenta? Por que nessa semana aconteceu o triste caso do cachorrinho assassinado no Carrefour. E com ele a triste realidade de que para muitas pessoas a vida de um animal não importa. Não importa a dor que eles possam sentir. E isso é assustador! Não é o primeiro caso, nem será o ultimo de alguém covarde torturar um animal, por achar que está no seu direito, mas pelo menos, desta vez está havendo uma comoção tão mais forte quando as pauladas que tiraram aquela vida.
Não é digno de respeito quem machuca um animal. Não é digno de respeito quem acha que um animal pode ser machucado, porque é apenas mais um. Lembre-se, cada um de nós, também é "só mais um” ser humano. Somos todos grãos de areia num deserto.
O meu discurso só seria inquestionável se eu fosse vegana, o que não sou. Entendo que não deveria haver distinção entre o cachorrinho no Carrefour e o bife que comi no almoço. Quem dera eu possa um dia evoluir e ter força de vontade suficiente para que eu possa mudar. Mas mesmo tendo uma dose de hipocrisia no que eu falo, a questão que quero levantar é que temos a obrigação moral de cuidar dos bichinhos que estão por aí!
Para aumentar a discussão, nesta semana, um senhor da minha cidade criticou as ONGs, pois viu um cachorro agonizado e “ninguém fez nada”, inclusive o tal senhor, que apenas fotografou o pobre bichinho. Uma falta de respeito sem tamanho, visto que essa galera trabalha voluntariamente e vivem em prol da causa animal. Pessoas incansáveis que são um exemplo de humanidade e que merecem mais respeito que qualquer político ou popstar. Quando olho para eles, me envergonho de quem eu sou, afinal fica bem evidente que o ser humano pode ser bem mais relevante, e a gente não faz, por desculpas que inventamos para o nosso conforto.
Nem todo mundo pode pagar o tratamento de um animal de rua, nem todo mundo pode abrigar um animal em sua casa, mas tem tantas formas de ajudar. Compre uma rifa, um panetone, um cachorro quente, um docinho. Doe moedinhas no pedágio, roupas para um brechó. Compre um remedinho, um pacote de ração. Nada disso é possível? Tudo bem... Mas tem outras coisas que não envolvem dinheiro e que fazem uma baita diferença: Ensinem as crianças da sua família a cuidarem e respeitarem dos animais de verdade. Isso já contribui para criar uma sociedade mais consciente, humana e amorosa. Se você não gosta ou tem medo de animais, tudo bem! Não fazer nenhum mal (e ser conivente com ele) já é uma grande coisa!
A Floquenta da rua Paris não é nada fácil. Não parece com a queridinha Amelie Poulain, ou tem classe e delicadeza como aquele estereótipo das mulheres francesas. Sua energia exagerada mudou coisas da nossa rotina e estressou os outros moradores peludos da casa. Várias vezes já pensamos em um intercâmbio para ela, num endereço que tenha mais espaço, atenção e crianças e irmãos peludos para brincar. Mas não importa quanta bagunça ela faça, nada fará com que a gente abandone essa gordinha, afinal, não tem nada que pague o amor que emana dos seus olhos e lambidas grudentas. Eu posso xingar, gritar, colocar de castigo e ela ainda olha para mim com amor e admiração, como se eu fosse a própria Torre Eiffel! Não existe afeto mais verdadeiro do que do nosso sorvetão de flocos.
Nossa Paris não tem croisant, vitrines da Chanel, uma Monalisa presa na parede, culinária sofisticada, nem fim de tarde a beira do Sena. Não tem requinte, grandes construções, nem encantos históricos. Mas uma coisa que a nossa Paris tem é luz! Muita luz. Talvez mais luz do que a original. E essa luz tem como combustível o amor.
E o que desejo? Que essa luz exista no coração de cada um! Que essa luz seja mais forte que a escuridão! Que a bondade seja maior que a violência. Que o amor seja mais forte do que tudo. Que as Floquentas e seus amigos, nos ensine a ser pessoas melhores. Todos nós estamos precisando!

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