Você está numa sala com 10 pessoas. Você parece bem, plena, confiante, mas lá no fundinho está ansiosa, está se sentindo deslocada, insegura por qualquer motivo, seja o cabelo que não está impecável, a roupa que não caiu bem, tá inchada por estar naqueles dias, por achar que tem um alface no dente, ou porque vão te perguntar alguma coisa e não saberá responder... Deixa eu te contar uma coisa... nesta sala existem 11 pessoas sofrendo.
Todo mundo neste mundo se sentirá inseguro em algum momento. E duvido quem se sinta tranquilo o tempo todo, a ponto de discordar com essa minha estatística! Se sentir plena todos os dias da vida é uma tarefa impossível.
Um dos fatores que nos faz se sentir deslocados se chama PADRÕES. Padrões são formas e pensamentos impostos como os “corretos” ou “aceitos” e que deveríamos tentar seguir. Este final de semana assisti um filme que fala sobre padrões (e a quebra deles) e que indico a vocês: Dumplin.
Basicamente a história é de uma menina bem gordinha, chamada Will, que é filha de uma miss que é organizadora de eventos de beleza, e é interpretada pela belíssima Jennifer Aniston. A personagem central entra no concurso da mãe em forma de protesto. O trailer faz parecer que será uma comédia sobre uma garota protestando contra a futilidade da beleza. Mas é muito mais que isso! Tem a ver com aceitação, amor próprio, quebra de paradigmas, respeito, confiança, amizade, empatia. Vale a pena assistir!
Em certos momentos chega a dar uma irritação em relação à personagem central, por como ela se auto pune e tem tanta pena de si. Dá vontade de dar um chacoalhada e ao mesmo tempo abraçar tão forte, mas tão forte a Will e dizer, tá tudo bem! Uma pequena cena que me chamou a atenção, foi quando a sua melhor amiga (que tem os “padrões” para concorrer no concurso) diz que ela também se sente deslocada. Ou seja, não importa se você é gordinha, magrela, alta, baixinha, loira, morena, casada, solteira ou qualquer outra coisa...todo mundo se sente um peixe nadando na areia quente.
Não vou contar mais sobre o filme, mas garanto que vale a pena você assistir, chorar e comer um chocolate. Vale você se olhar no espelho depois, também repensar os julgamentos que estão na sua cabeça, ou qual o nível de respeito que você está dando para as outras pessoas e a você mesma.
Obviamente, eu Therumy, não posso dizer “eu entendo” o que a Will passava, afinal, tenho consciência de seguir alguns padrões. Tenho consciência dos meus “privilégios”, não que eu me sinta feliz por isso, mas entendo a minha situação privilegiada. Mas entendo que eu, você, sua melhor amiga, sua mãe, sua tia, sua vizinha, todas nós, nos envergonhamos de algo em relação ao nosso corpo, nossas experiências, nossas personalidades, nossos conhecimentos, nossa vida.
Eu tenho pernas grossas. Essa foto aí tem um pouco de Photoshop, mas pedi para o meu amigo fotografo não afinar nada. Queria me encarar e me aceitar. Pernas gordinhas, com celulite valendo, brancas a ponto de ver as veias como um mapa da bacia hidrográfica do São Francisco. Queria ter penas de modelo magrela, que usa jeans e fica retinho e não como uma rã dançarina de funk. Mas essa é a realidade... É difícil eu tirar fotos comuns pois me sinto esquisita, com bochechas de bolacha Maria, o cabelo nunca tá do jeito certo. Antes os dentes eram grandes, agora pequenos. Os olhos são pequenos, as olheiras não.
As pessoas também acham que sou muito inteligente... e admitir que não sei alguma coisa, que não tenho capacidade para entender algo, ou colocar a prova isso, me trava completamente, faz com que eu me sinta sufocada e com vergonha.
O que quero dizer minha cara...eu sou muito insegura! Dias mais. Dias menos. E tá tudo bem!
Somos bombardeadas com a imagem da perfeição. Com a beleza em capas de revistas, em posts do Instagram. Com a magreza, o cabelo perfeitamente loiro e liso, com a “felicidade” em fazer dietas malucas e “pagar” treinos cansativos. Se a gente for pro lado intelectual também dói... A gente vê por aí quem fala vários idiomas, faz cursos em vários lugares do mundo, tem carreiras brilhantes, ideias incríveis, inteligência saindo pelo suor. E mesmo nós somos pessoinhas espertas, é difícil entender que isso não acontece 100% do tempo. Que todo mundo é real e comum.
Por traz de uma menina sedutora, às vezes há uma menina carente.
Por traz de uma mulher autossuficiente, às vezes há uma mulher cansada.
Por traz de uma pessoa poderosa, às vezes há uma pessoa solitária.
A gente mascara as coisas! Passamos rímel e batom e engolimos algumas lágrimas dando luz para um sorriso aberto, largo e mentiroso. Nós mulheres somos muito boas em fazer isso, não é mesmo?!
Provavelmente eu não sou a mulher mais bonita do mundo, nem você. Simplesmente porque ela não existe. Ela é uma invenção das nossas cabeças inseguras. Mas a nossa ansiedade em ser algo que não existe, nos fere, nos molda, nos corrói. Vivemos uma ilusão, buscamos ela, trabalhamos por ela. E mantemos a postura em cima de um salto, até que um dia o pé vira e a gente fica chorando sentada no chão. Mas essa loucura toda se torna um pouco mais fácil, quando a gente percebe que absolutamente ninguém sabe ao certo o que está fazendo.
Eu não sou uma foto, eu não sou um currículo, eu não sou um corpo, eu não sou uma conta bancária, eu não sou um personagem, eu não sou um padrão. Eu sou uma alma!
Você é linda se a sua alma for linda!
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A crítica sobre o Dumplin, disse que ele é clichê. Até é! Mas e daí... E aqui vai umas frases do filme para você se inspirar!
> O mundo está cheio de pessoas que vão querer dizer quem você é, mas é você quem decide.
> É difícil ser um diamante em um mundo cheio de strass.
> Se quiser o arco-íris, vai ter que passar pela chuva.
> Até onde eu sei, um corpo de biquíni é um corpo usando um biquíni.
> Descubra quem você é e seja você de propósito.

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