12 de abril de 2018

No tempo em que Fandangos era café da manhã




Aos 15 aos eu sentia que tinha um mundo de possibilidades para descobrir. Você também?

Naquela idade, eu ouvia Linkin Park, Madonna, Capital Inicial e Ramones. Digamos que meu gosto musical da época está um pouco melhor do que de agora. Aos 15 eu me achava uma bruxa das páginas do Paulo Coelho. A Brida que busca seu entendimento espiritual em cartas de tarot. Isso não mudou muito!

Minha cor preferida aos 15 era azul. Hoje é rosa.


Estudava no Estadual. Para quem não conhece, é a maior escola da cidade, onde só estudam adolescentes (não tem ensino fundamental). Ao entrar lá, a gente se sentia quase um adulto. Naquela época, tínhamos a liberdade para ser e fazer o que quisesse, o que gerava um senso de responsabilidade maior. Existiam colegas mais velhos, vários fumavam, outros não entravam na sala e tudo bem. A gente escolhia como se comportar, mas se por acaso não passasse na prova de inglês, não havia conversa de pais com diretora que fosse mudar alguma coisa. Se eu quisesse ouvir música no bar em vez de conjugar o verbo to be, ok. Mas depois, eu que deveria correr atrás do prejuízo.

Lá matei minhas primeiras aulas. Não foram muitas. Mas haviam dias que eu preferia ficar sentada na grama, pegando sol, num morro que havia nos fundos da escola, vendo a paisagem. Me perdia no tempo naquele lugar e também nos meus pensamentos e inspirações.

No tempo em que o método de busca era Barsa, a gente amava ler Capricho, Atrevida e Toda Teen. Lia, emprestava para as amigas e lia de novo. Meu assunto preferido era astrologia, mas ali a gente descobria de tudo um pouco daquele universo adolescente. Relacionamentos, drogas, música, sexo. Meu Deus, sexo...que vergonha! Essa parte a gente lia escondidinha!

Na época em que se usava Melissa com meia ou bota branca, eu não me preocupava em pintar a raiz do meu cabelo. As meninas não usavam roupas sedutoras, salto alto ou maquiagem pesada. Eu, que às vezes era fora da curva, usava maquiagem com frequência, mas se resumia a kajal e batom marrom. Ahhh, kajal, toda menina dramática precisa de kajal. E drama era uma palavra que me representava. Afinal, uma pisciana sensível busca no drama o seu show. Como se tudo fosse um grande enredo do Álvares de Azevedo. Quanto mais drama, mais kajal!


Os 15 anos é a idade das paixões. Amores profundos ou platônicos. Tão intensos que duravam uns 2 meses apenas. Todos eram “o amor da minha vida”, o para sempre. (Mas não dá pra menosprezá-los, afinal o meu marido entrou na minha vida por essa idade aí e olha só onde chegamos!) Naquele tempo eram cartas, dramas, declarações, namoricos no bosque (sim, minha escola tinha um bosque). Trocamos o pega-pega da infância por uma outra forma de “pegar”. Mas acho que ainda era um pouco mais inocente dos dias de hoje. A gente se descobre quando ama, e como eu amei!

Numa escola que não exigia uniforme se instalava o paraíso para uma menina criativa. Podia me expressar pelo o que vestia. Revirava o guarda roupas da minha mãe em busca de peças incomuns e combinações estranhas. Dias eu era a Pocahontas, outro uma bruxa gótica, outro uma releitura da Madonna nos anos 80. Tênis vermelho, calça larga e uma camiseta com a barriga de fora (que hoje chamamos de croped). Não havia o desejo de seduzir, de expor o corpo que ainda era um palito, mas sim de representar o que a cabeça da época pensava e o coração sentia. E vamos combinar, isso num adolescente muda constantemente.

Era época de fazer amigos e de comer pastel todos os dias e não engordar. Algumas meninas daquela época ainda são as minhas melhores amigas de agora! Naquele tempo não haviam redes sociais, selfies, e quem tinha celular era para os pais ligarem, ou um sms aqui e ali quando necessário. A gente sabia da vida dos outros pelos questionários em cadernos... “Você viu o que o fulano respondeu?? Uauuu!” Ali iniciava os comentários e fofocas na escola. E como a gente adorava!

Andávamos em bando. No meu caso, nos intitulávamos “caldeirão”, pois uma panelinha seria rasa demais. Dividíamos as roupas, o lanche, os “ficantes”, as respostas dos exercícios de física. Eu particularmente vivia abraçada com a melhor amiga da época e adorava seu moletom macio do Piu-Piu. E mesmo andando em grupos, a gente ainda se sentia sozinha, incompreendida. Nem a gente conseguia nos entender, não é mesmo?! 

Nunca soube exatamente o que eu era. As vezes a princesinha vista como metida, as vezes a idealista das conviccções fortes, a artista diferentona, a novinha comportada. Mas na verdade, nos 15 somos todos esses papeis, pois estamos tentando nos descobrir! Numa época que palavras como ansiedade, depressão e bulling não eram faladas, não por não existir, mas por não entendermos. 

E hoje, depois de um pouco mais de 15 anos terem se passado, a gente acaba sempre lembrando com carinho das pessoas com quem convivíamos. Do garoto talentoso que tocava Legião Urbana no intervalo. Do rebelde charmoso da turma. Da galera do fundão. Do mala chato que só aprontava. Das gurias quietinhas e delicadas que sentavam perto da parede. Das espalhafatosas que gostavam de chamar atenção (essa era eu). Do palhaço da turma ou daquela menina briguenta que devia estar sempre na TPM. 

Ah esses hormônios! Tem também os professores que nunca caem no esquecimento, sejam por serem incríveis ou que tenham aquele toque carrasco necessário para enfrentar uma legião de jovenzinhos metidos à besta que acham que sabem tudo, não sabendo nada!

Não podemos voltar no tempo e viver novamente essa montanha de emoções e descobertas. Mas dá para acordar numa manhã fria, ligar o rádio e ouvir por acaso as músicas que tocavam no seu diskman a todo volume (sim pirralhada, não era mp3) e lembrar com saudosismo gostoso daqueles dias em que ser “adulto” era ir para casa a pé.

Então, a todos que eu amei. Aqueles que eu beijei. As pessoas com quem cantei alto uma canção. Daqueles com quem gargalhei ou chorei abraçada. A todos que dividi um pacote de Fandangos e aqueles que descobriram o seu próprio mundo junto comigo. Meu muito obrigada!

PS: As minhas fotos da época são esquisitas. Essa era a que eu mais gostava. A única que fazia eu parecer mais gatinha e menos um coelho da Páscoa magrelo com o cabelo da Maria Bethania!




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