Um dia eu fui uma borboleta voadora. Voei incansavelmente pelo palco do Centro de Cultura da minha cidade. Foi lindo. Desafiador. Autêntico.
Aos 8 anos, estava sentada em minha classe da 3ª série. Brincava com um macaco de pelúcia para fingir que não me sentia nervosa e incomodada. A professora estava escalando o elenco para o teatro do festival de talentos da Escola. Lembro dela dizendo algo como: “Fiquem todos sentados e esperem ser escolhidos”. E eu fiquei assim... Sentada, imóvel e ansiosa para que chamasse o meu nome.
Os minutos ou segundos que se passaram pareceram uma eternidade. Como se o relógio se arrastasse na pressa de uma lesma com sono. Eis que ela chamou minha melhor amiguinha da época, a Daira. Ela seria um passarinho. Fiquei tão feliz por ela, afinal pássaro é lindo e pode voar. Estava contente pela minha amiga, mas com dor em algo dentro de mim, por acreditar que nada seria. Então ela disse meu nome, e com uma alegria radiante eu me senti aliviada e pertencente. A professora, que se chamava Márcia então revelou, que eu seria uma borboleta. Eu também teria asas.
Foi a primeira vez que pisei num palco. Meu papel era pequeno, mas tinha uma função importante. Dar uma carona com minhas asas para uma formiguinha em uma aventura epopeica. E foi incrível! Eu amei a sensação. Aquela luz, o cheiro da madeira do chão, a cortina aveludada e gigante. As palmas, os gritos, a ansiedade gostosa! Estar naquele lugar passou a ser uma das melhores alegrias da minha vidinha.
Mas a frase “esperem ser chamados” foi algo que também marcou. Porém não tinha isso tão evidente, até agora. Naquele momento aprendi a ser paciente, mas também que não devia dizer o que eu quero. Que não deveria quebrar o silencio e gritar “me escolhe”. Que a passividade é vista como bom comportamento. Claro que nem a professora ou qualquer adulto fala coisas assim tendo a ideia de como ecoa na mente de uma criança. E sinceramente só fui lembrar disto neste final de semana em um curso incrível que fiz.
Sou uma pessoa passiva e pacífica. Ao longo do tempo, fui esperando ser escolhida para muitas coisas. Porém em outras, que me sentia segura e motivada eu dava a cara a tapa e buscava o que queria. E esse comportamento em mim oscila bastante até hoje. Às vezes sendo movimentada como as ondas de um mar de ressaca, as vezes água parada e serena como um lago no inverno.
Em nossa vida ouvimos tantas coisas e criamos tantas verdades que são verdades só pra gente. E nos moldamos com elas, mesmo que sejam moldes que nos deixam desconfortáveis. Às vezes somos circulares, mas tentamos nos encaixar numa forma triangular pois é a mais correta, bonita, imponente ou seja lá o que for.
Eis que neste final de semana fiz um curso lindo, que fala sobre auto descoberta, amor, carreira, sonhos, talentos, dores, alegrias e uma porção tão gostosa e maluca que não tenho como explicar. E no meio disso tudo uma loira linda e florida chamada Carol fazendo a gente se entender, chorar e pensar. Ela falou algo que acho que é um grande segredo tão boboca que a gente é tão pateta e não percebe... Realizar o possível. É mais ou menos assim... Eu posso sonhar em ser ou fazer algo grande. Mas para esse sonho se realizar eu preciso dar um passo. Um passo de formiga e não de elefante. Fazer algo que hoje eu posso fazer. Vou dar um exemplo que ela mesmo deu: Se alguém sonha em ter uma escola, a primeira coisa que ela pode fazer não é vender tudo o que tem e abrir esse negócio. É cuidar do sobrinho em um sábado. Depois, reunir o sobrinho e os seus amigos e fazer uma festa do pijama. Depois ir na pracinha do bairro e fazer uma hora do conto. E assim ir indo. Construindo tijolinho por tijolinho do sonho com algo que eu possa fazer hoje. Agora!
Este final de semana me serviu para pensar um universo de coisas que irão servir como perfume para outros tantos textos. Inspirações que quero compartilhar e compartilhar e compartilhar. Porque uma coisa é certa que descobri: Eu estou aqui para compartilhar amor!
E eu te convido a pensar no seu sonho, desejo, projeto... Dê a ele o nome que quiser. O que você pode fazer hoje para chegar um passinho mais perto? O que é possível fazer? Só uma coisinha! Quer plantar uma floresta? Comece plantando uma árvore no teu jardim. Quer mudar o mundo? Dê bom dia para as pessoas com sorriso e gentileza. Quer trocar de curso na faculdade? Mande um email para a coordenação pedindo uma avaliação de aproveitamento de cadeiras. Quer um cachorro? Brinque com o do seu vizinho. Quer trocar de emprego? Faça uma lista do que você realmente gosta de fazer. Quer ser um grande confeiteiro? Faça um bolo venda os pedaços no seu trabalho. Quer mudar a alimentação? Coloque uma folha a mais de alface no prato.
E talvez você esteja se perguntando o que eu fiz? Eu dei um passo que tem muita relação com a borboleta lá de cima. Aquela que sentou e esperou ser chamada para voar. Um passo dado por um sopro que veio ao meu ouvido quando deitei a cabeça no travesseiro na noite passada. Não... não estou largando tudo para ser atriz. É algo bem mais simples. Mais eu. Mais doce. Comecei hoje algo que já sinto orgulho, mesmo sendo pequeno, simplista, mas é o MEU passo! E eu digo...esperem ser chamados para ver. Você vai voar comigo!
Meu coração está transbordando gratidão e felicidade.

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