Dani estacionou seu carro novo em frente a casa da sua mãe. Já estava atrasa para o café da tarde que tinha combinado com ela. Sua família já estava acostumada com esses pequenos atrasos e relevavam.
Ela catou sua bolsa no meio de todas as parafernalhas que carregava. Livros, cadernos, roupas, bolsa da academia, computador, potes, mais outro livros. As vezes ela acreditava que podia se perder naquela imensidão de coisas que seu pequeno, mas novo, carrinho guardava. Dani sempre preferiu ser precavida, então melhor levar uns 3 casacos em vez de um. Pena que eles não tem pernas que os levem sozinhos de volta para o guarda-roupas.
A garota entrou na casa, deu um beijo na sua mãe que preparava deliciosos bolinhos de chuva. Junto estava a tia Neiva, irmã de sua mãe e a avó Lili, sentada em sua poltrona preferida e tapada com sua colcha de patchwork feita a mão. Ela fazia um cachecol de tricô com uma lã vistosa roxa que parecia uvas de suas antigas parreiras. A avó normalmente ficava quieta no seu canto, a idade a deixou mais reservada e acredita-se que não escuta muito bem. Então ela ficava lá, ponto por ponto junto com suas agulhas.
Dani pegou um bolinho do prato e uma xícara de café com leite. Mal sentou no sofá e já foi bombardeada com perguntas de sua tia, que até podia ser uma querida, mas que sabia como irritá-la.
- Atrasada de novo, Dani?
- Sim tia, a vida tá corrida. Aí nem sempre o relógio ajuda.
- Mas hoje é sábado querida! Quem se atrasa em um sábado?
- Estava em casa tia. Fui trabalhar hoje pela manhã. Estamos com muito trabalho lá no escritório. Aí ainda eu tinha trabalhados da faculdade para fazer, roupas para lavar, e ainda tinha que comprar lâmpadas pois queimaram duas lá no apartamento.
- Mas a semana serve para fazer essas coisas Dani...
- Quem dera tia. Saio às 7h da manhã e vou direto para aula... Chego em casa lá pelas 23h só querendo um banho e minha cama macia.
- E os namorados? Como era o nome daquele último mesmo?
- Felipe tia. Mas não deu certo... Acontece!
- Aí guria, mas um rapaz tão bonito. Tão simpático!
- É, mas nem sempre dá certo. As vezes a gente precisa de algo mais do que um cara bonito do nosso lado.
- Mas você já está beirando os 30, vai ficar pra titia! Falou a tia naquele tom de brincadeira não tão brincadeira assim.
Dani responde só com um típico sorriso amarelo.
- Tu vê tua prima Jade. Está casada e esperando seu primeiro filho. Já a Giorgeta, minha primogênita está com dois filhos lindos, casada e cuidando se sua cada de boneca.
- Eu nunca gostei de brincar de bonecas. Não tenho pressa.
- Mas tem que ter querida! Você precisa encontrar um bom rapaz e construir sua família. Acho que você gasta muito tempo trabalhando tanto, estudando tanto e não vive!
A vontade de Dani era gritar, mas falou calmamente enquanto assistia sem atenção nenhuma o que se passava na tv:
- Viver vai além de cuidar de uma casa, marido e filhos. Eu vivo, do meu jeito.
Neiva, contrariada com a resposta, tenta chamar a sua irmã para conversa:
- Rose, tu viu isso? Esses jovens são tão diferentes não é mesmo. Essa tua filha é muito “moderninha”.
- Deixa a menina, Neiva. Ela é assim. Respondeu Rose, não querendo dar mais pano para manga, mas no fundo concordava com a irmã. Com a idade da Dani já estava casada e com a menina nos braços.
Dani já irritada com a situação, engole seu café e desabafa.
- Não entendo o problema de vocês... Eu tenho um apartamento, um carro novo, estudo numa boa faculdade, tudo isso com os frutos do meu trabalho, sem depender de ninguém. Tenho amigos, conheço lugares diferentes e sou feliz assim. Só vou ficar com um homem quando eu encontrar o certo. Que contribua com algo, que goste de mim do jeito que eu sou. Não estou desesperada. Os tempos mudaram e eu não me chamo Amélia. Me chamo Daniela.
- Calma menina! Tá muito nervosa. Realmente você deve estar trabalhando demais. Falou a tia Neiva, mas no fundo ela acreditava que estava assim por causa do Felipe. Mal sabia ela que ele já era carta fora do baralho faz tempo.
Dani olhou para o relógio, levantou e disse para mãe que precisava ir para outro compromisso. Rose beijou a testa da garota que pegou sua bolsa e a chave do carro. Antes que pudesse dizer “tchau”, a avó Lili, sem tirar seus olhos do tricô por nenhum segundo apenas, fala:
- Venha cá, filhinha.
Dani foi até ela, se abaixou para ficarem na mesma altura. Ela observava a destreza daquelas mãos idosas tramando aquela lã tão linda e viva.
- Filhinha, faça como eu... Não escute o que elas falam.
A avó deu batidinhas nas mãos da neta e abriu um sorriso jocoso.
- Amo você vó. Disse a Dani ao beijar sua mão. Depois levantou, disse um “até logo” e voltou para a sua rotina. A rotina que ela escolheu ter.
Texto escrito dia 10 de junho de 2016.

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