Assim como a água eu tenho 3 estados. Mas não são o sólido, líquido e gasoso. É sono, fome e atraso. Quase sempre um tem influência no outro e este último é o que acaba deixando a minha vida mais atrapalhada.
Engana-se ao achar que não tenho relógio. Tenho sim! Dois! Só que não funcionam... mas são bem bonitinhos (um até é de gatinho). Aí vai me perguntar...e o celular, você não olha? Olho sim, mas não significa muito para mim, pois os números se embaralham e me perco na hora!
Li uma vez que pessoas que vivem atrasada são otimistas, pois elas realmente acreditam que vai dar tempo de fazer tudo o que precisam. E é verdade, eu realmente acho que em 40 minutos eu vou ir de Igrejinha até Sapiranga, dar um "oi" para meus pais, passar na padaria, chegar em casa, trocar de roupa, comer uma coisa e chegar na academia no horário... Não consigo, mas continuo tentando.
Ahhh o tempo! Às vezes amigo, às vezes carrasco! Quando perdemos alguém especial, dizemos que a vida é um sopro. Se sofremos, o relógio parece se arrastar cansado. Se estamos felizes, num piscar já se passou horas e quando olhamos para o passado percebemos que o tempo é alado e voa rapidamente pelo céu!
E o que a gente anda fazendo do nosso tempo? Que desgraça de pergunta, não é mesmo? Pois para a maioria das pessoas esta é uma indagação que faz pensar “poxa vida, que droga”! A gente corre tanto, faz tantas coisas e depois parece que não fez nada. E olha que de correria eu sou bem acostumada... minha geração vive correndo! Muitas vezes temos mais que um emprego, estudamos, cuidamos da nossa casa, quem tem filhos corre mais ainda, fazemos um trabalho social, participamos de alguma instituição ou igreja, fazemos academia, corremos no parque, trabalhamos mais um pouco. É comum quando me perguntam “Como vão as coisas?” eu responder “Correndo!”, afinal estou sempre correndo mesmo! Mas todo mundo está na verdade, e uma hora vamos acabar se batendo, pois na corrida da vida, não tem placas de sinalização.
Falando em correndo, minha mãe me apelidou de Coelho da Alice. Lembra dele? É aquele doidinho que está sempre correndo e dizendo que está atrasado. Eu escrita, com dente grande e tudo! Mas não acreditem que eu gosto de ser ele! Gostaria de ser a Lagarta que está de boa curtindo a situação!
Mas falando sério. Eu gostaria de ter tempo para sentar e tomar um café com a minha mãe. Tempo para conversar com as minhas amiga. De poder abraçar meus gatinhos pela manhã sem a culpa de saber que estou atrasada, pois o sono me fez dormir mais do que podia. De ter tempo para almoçar com meu pai. Gostaria de ter mais tempo para caminhar com meu marido. Tempo para cozinhar coisas saudáveis. Tempo para estudar mais. Tempo para fazer coisas boas para as outras pessoas e para mim. Mas sabe... para tudo isso eu não estou tão atrasada! Mas tem outras coisas que o tempo acabou, e isso é triste. Gostaria de ter tido tempo para aprender a fazer waffers com a vó Divina e a costurar com a vó Miloca. Ter tido mais tempo no Mathilde, escola que me fazia tão feliz. Gostaria que minhas apresentações de dança tivessem durado mais. Gostaria de ter tido mais tempo para tomar vinho no Bar do Morro, ou de ficar enrolada em um cobertor ao lado da minha mãe assistindo TV de tarde. Gostaria de ter tido tempo para abraçar alguns que se foram. Tempo para ter dito que alguém era especial antes de partir pra outro caminho.
E o tempo é relativo. O que está na hora certa para mim, não está para você! O que para mim pode ser urgente, para você pode ser para depois. O que é futuro para mim é o passado para você. Confuso? Mais ou menos... a questão é que o tempo não é uma corrida, pois se fosse, o relógio seria infinitamente comprido, e na verdade ele faz círculos, mostrando que tudo sempre pode recomeçar. Sempre é tempo de fazer aquilo que a gente tanto deseja, mesmo que seja difícil se convencer disso.
O tempo é saudade, insegurança, ansiedade. Ele esfrega em nossa fuça as suas conquistas e marca a pele também. Ele faz a gente entender que envelhecemos e deixamos morrer. Mas também precisamos dele para que a vida aconteça. Te pergunto, o que está fazendo com o seu tempo? Correndo feito eu e o Coelho, mas tentando achar o freio nessa loucura toda? Não somos reféns do tempo, somos reféns daquilo que fazemos com ele.
O tempo passou para mim, assim como passou para você. Chatos diriam que não tenho mais idade para usar essas orelhas, para comer doces, para usar pijama de bichinhos. Alguns diriam que eu já deveria ter filhos. Outros um mestrado. Alguns que eu já deveria ter viajado por aí. Eu sei que não tem Renew poderoso no mundo que vai desaparecer com as rugas do lado do meu olho, nem que se eu girar o relógio ao contrário alguma coisa vai mudar, mas mesmo que a gente não possa voltar no tempo, eu preferi viver com a boboquice da infância e acho que estou onde eu realmente deveria estar, e tentar fazer do tempo oportunidade, pois só saudade dói!
Que a nossa vida tenha o tic tac certo que precisa ter e que o relógio nos mostre que está na hora de ser feliz! Vamos usar o nosso tempo para fazer algo bom, nem que seja para rir que ele passou!
Ah, e se eu marcar alguma coisa com você...desculpa. É certo que chegarei atrasada!
Texto escrito dia 13 de fevereiro de 2018.

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