Esta semana vi algo fofo e reflexivo. Num domingo nublado, perambulando de carro pelo centro, encontro um casal de vovozinhos passeando. Não dava pra saber quem era mais caquético que o outro, quem segurava quem. Tão frágeis, mas representando algo tão forte que é o tempo.
Os dois atravessaram a rua em passos lentos e o tempo todo de braços dados. Seus cabelos brancos iluminaram o dia cinza e enquanto os dois atravessavam a rua na frente do meu carro, a realidade parecia estar em câmera lenta, enquanto eu os observava e me questionava, será que um dia vou chegar a ser assim também?
Creio eu, que muitas pessoas românticas e sonhadoras deste mundo, assim como casais apaixonados, tem em seus pensamentos o ideal de envelhecer ao lado da pessoa amada. Não é a toa que no momento do casamento lá com o padre e seus similares, existe a frase do “até que a morte os separe”, num intuito de que seja possível que cenas como a que eu vi, possam acontecer.
Porém, não significa que estar ao lado de uma pessoa, passar seus dias e anos com alguém, significa que o amor ainda exista. Todos sabemos, que o tempo pode ser um inimigo, seja da convivência, da paciência, da beleza. São poucos que envelhecem juntos cultivando o amor, quantos relacionamentos são baseados no costume, na comodidade ou até mesmo na dependência.
Existe um filme francês chamado “Amour” vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano que conta a história de um casal de idosos, onde a mulher sobre uma crise de AVC ou qualquer outra coisa degenerativa (não sei, por que ainda não assisti), e após isto seu marido precisa cuidá-la o tempo todo, para todas as coisas. Aborda a ideia do que é amor e o que é dependência e obrigação. Algo forte de se pensar e colocar nesta situação, não?! Quebra a ilusão do eterno.
É triste pensar racionalmente no eterno. Pois o eterno não é tão eternamente assim. Aquele amor arrebatador pode se dissolver, aquela amizade que parecia tão perfeita pode ser trocada por outra de repente, o apreço por determinada coisa pode perder a graça, a música preferida pode enjoar, a comida preferida pode estar contaminada por salmonela. O eterno, é eterno apenas enquanto dura, ou como diz aquela música da Legião Urbana, também cantada lindamente pela Cássia Eller, “o pra sempre, sempre acaba”.
Tem a morte também, responsável pelo término da presença física, mas não vejo ela como responsável pelo fim do eterno (indo contra a frase aquela do casamento). A morte pode interromper o abraço, o toque, a conversa, mas ela nunca será responsável pelo fim de um amor forte, que vai além das questões de casal, mas entre pais e filhos, amigos, animaizinhos de estimação, ou qualquer outro ser. Neste caso, nem todo o tempo do mundo é capaz que acabar com o que realmente é eterno.
Aí lendo isto, você diz... Poxa The, quanto pessimismo. A questão não é pessimismo, são choques de realidade na verdade. Eu realmente desejo que a felicidade eterna seja eterna mesmo, que o amor dure para sempre e se renove a cada dia, que os amigos estejam sempre conosco, que o que é bom dure. Só é triste que têm coisas que não duram, que tiram do mercado, como Fofys de Chocolate por exemplo. Dá pra ter esperança, o Lollo e o Kit Kat voltaram, mas tem coisas que uma hora vai acabar, como o Rolling Stones, afinal a velhice tá aí me gente, o legado fica, mas a dancinha feita pelo Mick uma hora vai parar.
Estamos vivendo num mundo onde o amor é banalizado. São atualizações no Facebook apenas. São variações de sonhos. São trocas de amores. Faz tatuagem, apaga tatuagem, faz outra no lugar. E ainda por cima, a criação de uma individualização tão grande, são poucas as concessões, é pouco pensamento coletivo.É muito "eu" para pouco "nós"
"Amar" (leia-se relacionar) ficou fácil. Coitados do tal Romeu e Julieta que tiveram um fim trágico em nome do amor impossível. Difícil para tantas pessoas que lá no passado sofreram (não pelo amor, por que por ele ainda se sofre muito), mas pela dificuldade de viver um amor impossível. Antigamente era necessário ter certeza do sentimento que existia, pois logo ele acabava em casamento. Hoje em dia, é permitido fazer ilimitados test-drives, o que permite que as algumas escolhas não sejam equivocadas. Mas por mais que haja tempo e oportunidades de escolha, tem gente que decide errado, ou o que pode acontecer é que no meio do caminho se muda de ideia, não é mesmo? Ninguém está livre disto. Opa! E o amor da vida, deixou se ser.
Espero mesmo que quando eu estiver velhinha, encontre casais de vovozinhos assim como eu, felizes nos bailinhos da terceira idade. Espero também que as pessoas encontrem suas almas gêmeas, e que amem muito enquanto viverem. Que o passar do tempo, seja prazeroso, seja rico de sorrisos, histórias que merecem ser relembradas, e que cada passo dado num domingo nublado, nas ruas do centro de uma cidade deserta, seja de mãos dadas com mais que um companheiro, mas sim com um melhor amigo, uma parte importante de você.
Sofrer por amor é tão triste (sofrer é triste, tanto faz o motivo, é obvio né), e cada lágrima derramada é uma ferida que muitas vezes demora a fechar e deixa cicatrizes responsáveis por guiar escolhas e comportamentos pelo resto da vida. Quantas vezes gostar de alguém se tornou uma armadilha. É tão comum isto em nossa volta, não é. A pessoa certa na hora errada, a pessoa errada na hora errada, a paixão arrebatadora por uma pessoa egoísta e incapaz de sentimentos como a empatia e consideração, os erros cometidos pela imaturidade, sem dizer do clássico relacionamento com pessoas tipicamente cafajestes e falsas, grandes decepções, uma paixão platônica e doentia. São tantos fatores e provações que no decorrer do tempo tornam as pessoas cheias das tais cicatrizes e que arrastam massas como se fosse uma grande epidemia, aquele que estava livre é “mordido” por um que já tenha sofrido e vai sofrer as consequências de se relacionar com uma pessoa infectada, suja...ou seja, é um efeito dominó. Uma pessoa que sofreu por amor, fará outra sofrer (por conta de suas cicatrizes, inseguranças e traumas), e assim por diante. Complicado, não. Resumindo, amor é uma doença, mas é uma doença que todo mundo quer ter.
O velho e bom Raul já dizia, “ninguém é feliz tendo amado uma vez”, e realmente, isto é a mais pura verdade. Amar está relacionado com o sofrimento. Em contra-partida, está relacionado com a felicidade. Ou seja, é uma roleta russa, é preciso se arriscar. Quem vai começar?? É uma decisão difícil!
Fazia tempo que não escrevia, uma porque minhas opiniões andam cada vez mais ácidas, e apesar de não ligar para as críticas, eu não estava a fim de ofender ninguém. Continuo achando feio pra caramba cabelos platinados, achando cada vez mais burro as crenças religiosas, me irritando com comportamentos alheios, vendo defeitos e qualidades em diversas situações. O que me fez abrir uma página em branco e inserir minhas palavras nela foi a última noite, que sonhei coisas tristes, que me transportaram para momentos tortuosos da minha caminhada, fez lembrar como era a sensação do peito apertado e do total descontrole emocional. Aí eu lembrei do dia de domingo, onde eu percebi que até o dia mais nublado pode ser perfeito para aqueles que ainda acreditam e lutam pelo amor.
Quem sabe o eterno seja possível. Quem sabe o eterno não dependa do destino. Talvez ele dependa de você.
"Se eu to contigo não ligo se o sol não aparecer
É que não faz sentido caminhar sem dar a mão pra você"
Texto escrito no dia 5 de março 2013.

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